Neste século em que tudo se transmite rapidamente, a ânsia das pessoas por verdades duradouras vão se tornando cada vez maiores. O intercâmbio de informações entre culturas diferentes é ao mesmo tempo estimulante, assustadora e pode ser entendida como um monstro de duas cabeças, capaz de propiciar conhecimentos, cultura, tecnologia bem como disseminar todo tipo de preconceitos, ódio, violência, vícios e criminalidade.
O tempo atual é de anomalia e crise dos paradigmas vigentes no qual as explicações pseudo-científicas e místicas ocupam grandes espaços nos meios de comunicação.
Nesse clima contribuem os filmes, vídeos e jogos eletrônicos com cenas de indescritível violência e atentado aos bons costumes e a moral. O resultado é uma sensação de pânico e fragilidade que ameaça polarizar a sociedade a níveis insuportáveis.
E nesse pacote de desgraças, acrescenta-se o consumo cada vez maior dos alucinógenos. A demanda materialista está asfixiando o sonho de muitos jovens. Não se dão conta que estão entorpecidos por um sistema que os transforma em máquinas de consumismo como símbolo de felicidade. Um sistema tornando-os robôs que os utiliza e descarta como objetos.
Na loucura da competitividade e cobranças, como os adolescentes podem manter a calma, o equilíbrio e tranqüilidade com exigências cada vez maiores ? Responde a isso o crescente número de suicídios.
A par dessas questões, predominam filosofias arcaicas com restrições e preconceitos a questões da humanidade do tipo “de onde viemos, o que somos, onde estamos, para onde vamos e qual nosso destino final”. Satisfazem pelo que está escrito nos livros sagrados sem questionar o que está de desacordo com os conhecimentos científicos. E nesse clima surgem os oportunistas que se apresentam como única alternativa para nosso mundo louco.
Como estranhos em seu próprio habitat, o ser humano vive a Era Espacial usufruindo de notáveis conquistas tecnológicas mas ainda não aprendeu a conhecer a grandeza da sua pequenez e da sua estupidez. Os séculos e milênios se escoaram na ampulheta do tempo e os homens vivem a época atual como se fosse a mais importante de todas.
No esplendor da civilização milenar egípcia e dos romanos, para ficar somente nesses dois exemplos, eles também pensavam assim. Puro engano, pura ilusão. Quando a sonda americana Voyager 2 penetrou nos domínios do planeta Saturno a mais de 1 bilhão de quilômetros do Sol, conseguiu visualizar quase imperceptível, um pálido ponto azul :
Nada melhor que isso para mostrar que a nossa história, civilizações, conquistas, deuses e heróis nada significam no universo e que é necessário as pessoas voltarem para si mesmas, serem mais humildes vendo que na vastidão cósmica, não representamos nada mais que um grão de poeira ao sabor dos ventos do deserto.
Que somos engrenagens microscópicas de um universo do qual somente conhecemos 5% e que o passado dos mundos desaparecidos será o futuro da Terra que rolará moribunda no espaço sem testemunha do último gemido.
A ciência particularmente a astronomia, geofísica e paleontologia, nos proporciona uma visão racional, sensata , honesta e até filosófica sobre nosso lugar no universo.
Elas nos mostra quão frágil é o nosso planeta e que a vida a qualquer momento pode estar ameaçada. As colisões de asteróides e cometas já em cinco ocasiões praticamente extinguiu a vida no planeta. A última há 65 milhões de anos decretou o fim dos dinossauros e 80% da vida no planeta.
Em 1994 a colisão do cometa Schoemaker-Levy 9 no planeta Júpiter fosse na Terra, seria o fim da civilização, das espécies viventes e você não estaria lendo esse artigo. Nesse coquetel de catástrofes, somam-se as violentas erupções vulcânicas, deslizamentos das placas tectônicas e as radiações gama, a mais mortal no espectro eletromagnético, emitidas pela explosão de estrelas supernovas .
Isso ocorrendo em estrelas relativamente próximas a nós, decretaria o fim da nossa civilização e extinção das espécies viventes. A ciência nos aproxima da natureza com a astronomia nos mostrando a descoberta de planetas orbitando outras estrelas em número cada vez maior. Muitas estão situadas no que chamamos Zona Habitável, não muito perto e não muito longe do astro central.
É a região onde a temperatura na superfície de um planeta ai situado permite a existência de água. Mesmo que todo o cenário para a formação da vida não seja conhecido, não há duvida de que ele foi baseado no carbono e utilizou a água em estado líquido como solvente.
Já estão descobertos 4800 exoplanetas e desses já foram identificados 3000 sistemas planetários com mais de um planeta. Estima-se que existem em nossa galáxia algo como 6 bilhões de planetas semelhantes à Terra em orbita na Zona Habitável de estrelas parecidas com o Sol.
Com essa realidade, com esse pensamento , estaremos incólumes quando nos próximos 25/30 anos através dos nossos maiores radiotelescópios, chegar a tão aguardada mensagem : também estamos aqui !
A partir desse momento, uma verdadeira revolução social e teológica irá acontecer . As religiões e crenças estacionárias terão que se adaptar a realidade da existência no universo de miríades de mundos habitados defendidas no passado por Giordano Bruno (1550-1600) e Camille Flammarion (1842-1925).
As filosofias neles existentes são condizentes com seu estado evolutivo.
Prevalecerá as filosofias que saíram do orbe terrestre para defender a universalidade da vida em outros mundos. Aquelas sempre aliadas a ciência, a razão, o raciocínio e o bom senso.
Nelson Travnik, é astrônomo voluntário no Museu Aberto de Astronomia, MAAS de Campinas e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França.
Foto: Angélica, Nelson Travnik e Claudio Palermo em Campinas - Ago 2022