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Consciência Negra e beleza: em que ponto estamos nesta jornada?
Redação - Rádio Palermo
Publicado em 18/11/2022

Dra. Talita Cibele fala sobre a sua percepção do mercado que desconhece crise como mulher preta


O mercado de beleza e estética é um dos motores da recuperação econômica brasileira no pós-pandemia. De acordo com o Ministério da Economia, o Brasil abriu 343 mil salões de beleza nos últimos dois anos. O setor só perde para o varejo de vestuário em quantidade de empresas ativas no país. A Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos revelou que, de janeiro a setembro, o setor cresceu 8,5% em comparação ao mesmo período de 2021, o que equivale a US$ 1.14 bilhão. Perto do Dia da Consciência Negra de 2022, a pergunta que fica é: essa robustez do mercado chega às mulheres negras? 

 

 

Para responder, convidamos a Dra. Talita Cibele. Enfermeira com uma carreira construída em hospitais da capital paulista, há 8 anos ela trocou de rota para empreender vendendo cosméticos. Durante a pandemia, começou a estudar sobre o tratamento de estrias e, animada com os resultados, fez uma nova guinada profissional para ajudar mulheres a recuperarem as lesões na pele e a autoestima. Confira a entrevista:
 

Como mulher negra, você se sente atendida pelo mercado de cosméticos?

Depende. Se pensarmos em cabelo, hoje eu me sinto atendida. Temos várias marcas que atendem cabelos crespos e cacheados com produtos específicos.. Se falamos em maquiagem, ainda faltam paletas que atendam à pele negra, especialmente os tons retintos. Na área de cuidados com a pele, são poucas as empresas que atendem as necessidades, já que a pele negra tem particularidades, é mais oleosa e com propensão à formação de manchas. Quem tem pele negra ainda faz bastante esforço para encontrar produtos que deem resultado. 

 

Em comparação com 10 anos atrás, o cenário melhorou?

Sim. As empresas estão começando a se conscientizar que os negros são 54% da população brasileira, o que fez com que algumas começassem a olhar o perfil consumidor. Vejo avanço até quando falamos em tratamentos estéticos. Por exemplo, há 10 anos, não se falava em depilação a laser em pele negra por conta do fototipo alto que poderia manchar a pele. Hoje já existem no mercado equipamentos que podem ser usados em pele negra com segurança, sem o risco de manchar. 


 

No seu consultório, além das estrias, quais são as principais queixas de mulheres negras?

É a dificuldade de encontrar o tom de base para a maquiagem e essa base não deixar a pele oleosa. Também faltam tratamentos efetivos para o clareamento de manchas na pele negra. Ainda hoje uma pessoa negra precisa buscar um profissional especializado. A maioria dos profissionais são treinados para tratar pele branca e o mercado se acostumou a isso. É uma questão histórica.


 

A população negra é maioria no Brasil. O que explica a baixa oferta de produtos e tratamentos para este público?

Está ligado ao racismo estrutural. É um país que não se diz racista, mas que segrega essa população no acesso a tudo, do estudo ao tratamento estético. Quando vou em bons restaurantes, muitas vezes os únicos negros somos eu e meu marido. Onde estão os outros clientes negros do salão se somos metade da população? Estão nas regiões periféricas e sem os acessos da branquitude. Existem privilégios e isso se reflete na área de beleza e cosméticos, Tanto é que, quando comecei a estudar sobre estrias, quis saber como era o resultado na pele negra. Se não desse resultado em mim, como eu poderia tratar os meus semelhantes? Eu busquei formação para tratar todas as pessoas, mas se não funcionasse em mim e nas pessoas que se parecem comigo, não faria nenhum sentido. 

 

 

Por que o tratamento de estrias que você realiza funciona tão bem em peles negras? Pode explicar como funciona?

Porque estudei profundamente toda a fisiologia e comportamento da pele negra. No meu consultório, as estrias são tratadas uma a uma para promover a restauração do tecido da pele. Funciona assim: fazemos uma lesão de forma minunciosa na camada externa da pele, o que inicia o processo de regeneração na camada interna para ter uma pele mais sadia e devolver o tom natural da pele. E faço isso com todo o cuidado. A pele negra precisa produzir muito mais melanina para corrigir uma estria branca, por exemplo. Uso o meu conhecimento para gerenciar essa pele, para que ela produza a quantidade ideal de melanina sem causar outras manchas na região tratada, para que reconstrua as fibras elásticas e haja correção da profundidade da lesão. E funciona, alcançamos em média de 70% a 100% de regeneração da pele, ajudamos a recuperar a autoestima das pacientes e elas amam.

 

Fonte: Thavma Comunica

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